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Instrumentos
Violão
7 Cordas
Na
Renascença, período que marca o final da Idade Média,
os violões (na verdade, ainda chamados "quitaras")
eram encordoados comumente utilizando-se 4 pares de cordas
afinadas em uníssono. Cada par era chamado uma "partida".
O uso de cordas duplas era um artifício para compensar a sonoridade
ainda deficiente das caixas de ressonância. Durante o Barroco,
firmou-se o uso de cinco partidas (10 cordas) com uma grande
variedade de afinações,
algumas delas bastante semelhantes entre si. Durante o século
XVIII, difundiu-se o uso de 6 partidas para, finalmente, a partir
de 1800, estabelecer-se como padrão o uso de 6 cordas simples
para os violões na Espanha e em grande parte da Europa.
Cabeça de um violão de
sete cordas construído por Antônio de Pádua Gomide em 2003.
O
violão de 7 cordas nasceu, com alguma certeza, na Rússia
do século XIX a partir da kobza, instrumento típico
do Leste Europeu, muito semelhante ao alaúde barroco e a mandora germânica.
Todos estes, na verdade, pertencem a uma complexa família de instrumentos
de corda mediavais e renascentistas com origens na Pérsia, na África
e na Índia.
Atribui-se
ao lituano Andrei Sychra (177?-1850) a "invenção" do
violão de
7 cordas. De fato, Sychra
escreveu inúmeras
peças para o instrumento que se tornou mais popular na Rússia
que o violão de 6 cordas usado na Espanha. Ao migrarem para
outros países por motivos diversos, os lituanos saudosos de
sua terra transformavam os violões de seis cordas, mais comuns
pela Europa e em outros países do mundo àquela época,
adicionando improvisadamente uma corda adicional para, assim, poderem
tocar
suas canções prediletas da maneira original que as conheciam.
A afinação do 7 cordas pelos russos era um acorde de
sol maior aberto (DGBDGBD), proporcionando uma sonoridade característica
e facilitando a formação de acordes para o acompanhamento
de canções e a utilização de linhas de
contra-baixo simples, alternando-se entre as cordas. O violonista francês
Napoleon Coste (1805-1883) compôs várias peças
para o violão de 7 cordas.
O
Brasil, apesar de ser a segunda pátria do violão 7 cordas,
sem dúvida, foi a terra mais fértil onde floresceu este
instrumento. Relata-se que os responsáveis pela sua
chegada em nosso país foram
ciganos russos que viveram no bairro do Catumbi, Rio de Janeiro,
em meados do século XIX. Da convivência entre os ciganos
e os músicos
e construtores cariocas, nasceu o violão de 7 cordas brasileiro.
Entretanto, é certo que a adaptação
do instrumento ao universo do choro e do samba deu-se a partir
do início do século XX. O violonista China, irmão
de Pixinguinha, aparece em uma fotografia de 1910 empunhando
um violão
de 7 cordas. O papel de Tute, violonista membro do grupo de
Pixinguinha e Benedito Lacerda, é tido como o mais
relevante na introdução
do instrumento nos estilos brasileiros.
O
fenômeno Horondino José da
Silva, o Dino 7 Cordas, foi de longe o violonista mais importante
para o desenvolvimento das típicas linhas melódicas dos
baixos, as chamadas "baixarias",
que se tornaram a marca principal do instrumento quando executado
entre os "chorões". Dino dizia que
"achava lindo o Tute tocando aquele violão, mas não
queria que ele pensasse que eu o estava imitando, então só comecei
a tocar sete cordas depois que ele morreu". Estudiosos sugerem
que "Dino criou a linguagem brasileira do violão 7 cordas
enquanto tocava com o duo de flauta de Benedito Lacerda
e Pixinguinha em seu sax tenor que fazia maravilhosos contrapontos
graves
durante as apresentações"
(Mauricio Carrilho;
Luiz Otávio Braga).
No
Brasil as afinações mais comuns para o 7 cordas são
BEADGBE, DEADGBE e, principalmente, CEADGBE. Luiz Otávio Braga
inovou ao usar pela primeira vez cordas de náilon no sete
cordas, quando entrou para a Camerata Carioca de Radamés Gnattali,
em 1983. Instrumentistas como Raphael Rabello, Mauricio Carrilho,
e Yamandú Costa contribuiram
pela universalização do instrumento, utilizando-o em
peças dos
mais variados estilos, cada um deixando sua marca individual
neste instrumento maravilhoso.